"A finalidade do espiritismo é tornar melhores os que o compreendem."
Conhecendo o fato de numerosas instituições espíritas estarem enfrentando sérias desarmonias internas, acreditamos que o assunto deva merecer especial atenção nos círculos espíritas, como medida profiláxica contra esse mal altamente corrosivo e destruidor.
(Kardec, Revista Espírita de julho de 1859)
"Em todo espírita de coração vê-se um irmão com o qual nos sentimos felizes de encontrar, porque sabemos que aquele que pratica a caridade não pode fazer nem querer o mal."
(Revista Espírita, Abril de 1866, Ed. FEB, p. 157-163.)
Conhecendo o fato de numerosas instituições espíritas estarem enfrentando sérias desarmonias internas, acreditamos que o assunto deva merecer especial atenção nos círculos espíritas, como medida profiláxica contra esse mal altamente corrosivo e destruidor.
Embora existam publicações atuais, mediúnicas ou não, que
tratem do assunto, busquei na fonte do espiritismo (Kardec) informações sobre problemas
enfrentados - ou provocados - pelos trabalhadores espíritas.
Retiradas em sua maioria da Revista Espírita, procurei ordenar os textos encadeando as idéias, dado que foram escritas num período superior a dez anos, sem, no entanto, fazê-los perder o sentido no contexto original.
Surpreende deparar-se com observações tão atuais, caracterizadas por uma firmeza que não deixa dúvidas a respeito da preocupação do mestre de Lyon em conscientizar os espíritas sobre a importãncia da harmonia e homogeneidade de sentimentos, sintetizados pela palavra CARIDADE, a fim de que os inimigos, encarnados ou desencarnados, não ponham a pique a obra de amor e auto-iluminação que o Consolador programou para o avanço da evolução espiritual da humanidade.
Com a palavra, Kardec. Os
grifos e alguns comentários posteriores aos artigos são meus.Retiradas em sua maioria da Revista Espírita, procurei ordenar os textos encadeando as idéias, dado que foram escritas num período superior a dez anos, sem, no entanto, fazê-los perder o sentido no contexto original.
Surpreende deparar-se com observações tão atuais, caracterizadas por uma firmeza que não deixa dúvidas a respeito da preocupação do mestre de Lyon em conscientizar os espíritas sobre a importãncia da harmonia e homogeneidade de sentimentos, sintetizados pela palavra CARIDADE, a fim de que os inimigos, encarnados ou desencarnados, não ponham a pique a obra de amor e auto-iluminação que o Consolador programou para o avanço da evolução espiritual da humanidade.
"Haveis de lembrar, senhores que a sociedade teve suas vissicitudes; tinha em seu meio elementos de dissolução, proveniente da época que se recrutava gente muito facilmente, e sua existência chegou mesmo, em certa ocasião, a ser comprometida. Naquele momento, pus em dúvida sua utilidade real, não como simples reunião, mas como sociedade constituída.
Fatigado pelas adversidades, estava resolvido a retirar-me; esperava que, uma vez livre dos entraves semeados em meu caminho, trabalharia melhor na grande obra empreendida. Fui dissuadido por numerosas comunicações espontâneas, que me foram dadas de diferentes lugares. Entre outras, uma há, cuja substância agora me parece parece útil vos dar a conhecer, porque os acontecimentos justificaram as previsões. Ela estava assim concebida:
"A Sociedade formada por nós com teu concurso é necessária; queremos que subsista e subsitirá, não obstante a vontade de alguns, como tu o reconhecerás mais tarde. Quando existe um mal, não se cura sem crise. Assim é do pequeno ao grande: no indivíduo como nas sociedades; nas sociedades como nos povos; nos povos como será na humanidade. Quando deixar de o ser sob a forma atual, transformar-se-á, como todas as coisas. Quanto a ti, não podes nem deves te retirar. Contudo, não pretendemos subjugar teu livre-arbítrio; apenas dizemos que a tua retirada seria um erro que um dia lamentarias, porque entravaria nossos desígnios..."
Desde então, dois anos se passaram e, como vedes, a Sociedade superou aquela crise passageira, cujas peripécias me foram todas assinaladas, e das quais um dos resultados foi dar-nos uma lição de experiência, que aproveitamos, além de provocar medidas que não temos senão que aplaudir."
(Revista Espírita, Junho de 1862, Ed. FEB, p. 227-239.)
Os grifos assinalam dois pontos capitais na sociedade em crise: que no esforço para recobrar a harmonia a crise aumenta ainda mais, pois os elementos de dissolução, por não compreenderem a moral espírita, se afeerarão mais ainda em seus intentos; e o segundo é que o processo de aprendizado exige medidas profiláxicas para que o mal não retorne. Não é uma caça às bruxas, isso seria terminantemente contra a doutrina espírita que prega tolerância, mas sim uma adequação de conduta para que se tenha um ambiente harmônico, onde predomine o amor, propício à aproximação dos Bons Espíritos responsáveis pelos trabalhos. Kardec nomeou a tolerância como um dos pilares para a existência da sociedade espírita, pois todos somos imperfeitos, egoístas, orgulhosos; porém, nunca pregou a conivência com aqueles irmãos que, alertados à exaustão sobre seus desvios de conduta, prosseguem com ouvidos fechados, pondo em risco a real razão do centro existir: o atendimento àqueles que batem a porta esperando consolo, esclarecimento e aprendizado.
"Todas as reuniões religiosas, seja
qualquer culto a que pertençam, são fundadas sobre a comunhão de pensamentos; é
aí, com efeito, que ela deve e pode exercer toda a sua força, porque o objetivo deve ser o desligamento do
pensamento das amarras da matéria. Infelizmente, a maioria se afastou deste
princípio, à medida que fizeram da religião uma questão de forma. Disto
resultou que, cada um fazendo consistir seu dever no cumprimento da forma, se
acredita quite com Deus e com os homens, quando praticou uma fórmula. Disto
resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um
pensamento pessoal, por sua própria conta, e, o mais freqüentemente, sem nenhum
sentimento de confraternização em relação aos outros assistentes: ele está
isolado no meio da multidão, e não pensa no céu senão para si mesmo."
(Revista
Espírita, Dezembro de 1868, Ed. FEB, p. 236.)
Aí está a gênese da maioria dos problemas dos centros espíritas. Os trabalhadores são espíritas convictos, aceitam e acreditam nos postulados espíritas, mas principalmente a nível intelectual. "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más." (ESE, Cap. XVII, ítem 4). A nível de sentimentos, atitudes, a parte moral, como exige esforço, vontade e desprendimento, poucos trabalhadores a transformam. Kardec os chama de Espíritas Zelosos, pois defendem com unhas e dentes o exterior - a sociedade, suas regras, suas atividades, porque é mais fácil mudar e controlar o exterior que o interior. Como é natural, surgem divergências na condução das tarefas. E, na proporção dada pela equação qualidades e consciência espírita / vícios morais e preocupação com sua satisfação, podem ocorrer discórdias de todos os matizes, pondo em risco toda a qualidade e eficiência das atividades desenvolvidas na sociedade espírita.
Em relação aos trabalhadores-problema, vejamos a visão de Kardec sobre estes.
"Sem dúvida, o Espiritismo está muito
espalhado; contudo, estaria ainda mais se todos os adeptos tivessem seguido os
conselhos da prudência e guardado uma prudente reserva. Sem dúvida, é preciso
levar-lhes a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo confesso que um
amigo incoveniente."
"Nunca seria demais recomendar aos
espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Em tais casos manda
a prudência não confiar em sua opinião pessoal. Hoje, que de todos os lados se
formam grupos ou sociedades, nada mais
simples que se por de acordo antes de agir. Crer em sua própria
infabilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se
demonstra mau e comprometedor, não é a atitude de um verdadeiro espírita. Seria
dar prova de orgulho, senão de obsessão. (...) é tão difícil a um falso
espírita, como a um mau Espírito, simular um Espírito Superior."
"Outros são mais afetados que hipócritas;
com olhar oblíquo e palavras melífuas sopram a discórdia enquanto pregam a
união. Sucitam com habilidade a discussão de questões irritantes ou ferinas,
capazes de provocar dissidências. Excitam uma inveja de predominância entre os
vários grupos e ficariam contentíssimos se os vissem a se apedrejarem e, em
favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma ou de
fundo, geralmente provocadas, erguem bandeira contra bandeira." ( ! )
"Pretender que todos os espíritas sejam
infalíveis seria tão absurdo quanto a pretensão de nossos adversários de
deterem o privilégio exclusivo da razão. Mas se alguns se enganam, é que se
equivocam quanto ao sentido e ao fim da doutrina. Nesse caso, sua opinião não
pode fazer lei, é ilógico e desleal, conforme a intenção, tomar a idéia
individual pela geral, e explorar uma exceção. Seria o mesmo que tomar as
aberrações de alguns sábios como regras da Ciência. A esses diremos: se
quiserdes saber de que lado está a presunção de verdade, estudai os princípios
admitidos pela imensa maioria, se não, ainda, pela unanimidade absoluta dos
espíritas do mundo inteiro."
Podem, pois, os crentes de boa-fé
enganar-se e não os incriminamos por não pensarem como nós. Se, entre as
torpezas relatadas acima, algumas não passassem de opinião pessoal, nelas não
veríamos senão desvios isolados, lamentáveis; seria, porém, injusto
responsabilizar a Doutrina, que as repudia abertamente. Mas, se dizemos que
pode ser o resultado de manobras interesseiras, é que nosso quadro é feito
sobre modelos. Ora, como é a única coisa que o Espiritismo tem a temer no
momento, convidamos a todos os adeptos sinceros a se porem de guarda, evitando
as armadilhas que lhes poderiam estender."
Observe agora que até as comunicações foram motivo de discórdia entre os médiuns:
(Revista Espírita, Junho de 1862, Ed FEB, p. 227-239)
"Nosso dever é de premunir os Espíritas sinceros contra as armadilhas que lhes são estendidas."
(Revista Espírita,
Março de 1863, Ed. FEB, p. 109-118.)
Observe agora que até as comunicações foram motivo de discórdia entre os médiuns:
"Sabemos que todos
os Espíritos estão longe de ter a soberana ciência e que podem se enganar; que,
freqüentemente, emitem suas próprias idéias, que podem ser justas ou falsas;
que os Espíritos superiores querem que nosso julgamento se exerça em discernir
o verdadeiro do falso, o que é racional do que é ilógico; é por isso que não
aceitamos, jamais, nada de olhos fechados. Não se saberia, pois, nela ter
ensinamento proveitoso sem discussão; mas como discutir comunicações com
médiuns que não suportam a menor controvérsia, que se ferem com uma nota
crítica, com uma simples observação, e que acham mal que não sejam aplaudidos
em tudo o que obtêm, fosse mesmo maculado com as mais grosseiras heresias
científicas? Essa pretensão estaria deslocada se o que escrevem fosse o produto
de sua inteligência; é ridícula desde que não são senão instrumentos passivos,
porque se assemelham a um ator que se melindraria se fossem achados maus os
versos que está encarregado de recitar.
Essa má direção, nos
médiuns que por ela são atingidos, é um obstáculo para o estudo. Se não
procurarmos senão os efeitos, isso seria sem importância para nós; mas como procuramos
a instrução, não podemos nos dispensar de discutir, com risco de desagradar aos
médiuns;(...) alguns há mesmo que
estendem a suscetibilidade ao ponto de se melindrar com a prioridade dada à
leitura das comunicações obtidas por outros médiuns; o que é, pois, quando uma
outra comunicação é preferida à sua?"
"Os impacientes que não sabem esperar o momento propício comprometem as colheitas como comprometem a sorte das batalhas. Entre os impacientes, sem dúvida, há os de muito boa-fé; eles gostariam de ver a coisa ir ainda mais depressa, mas se parecem a essas pessoas que crêem fazer avançar o tempo avançando o pêndulo. Outros, não menos sinceros, são levados pelo amor-próprio para serem os primeiros a chegar; semeiam antes da estação e não recolhem senão frutos abortados. Ao lado destes, infelizmente, há outros que levam o carro a toda a pressa, na esperança de fazê-lo tombar."
(Revista Espírita,
Junho de 1865, Ed. FEB, p. 254-260.)
"Os períodos de transição são sempre penosos de passar; o Espiritismo está nesse período; ele o atravessará com tanto menos dificuldade quanto seus adeptos usarem de mais prudência."
"Entre os Espíritas reais, aqueles que constituem o verdadeiro corpo dos adeptos, há certas distinções a fazer. Em primeira linha é preciso colocar os adeptos de coração, animados de uma fé sincera, que compreendem o objetivo e a importância da Doutrina, e aceitam-lhe todas as conseqüências por si mesmos; seu devotamento é a toda prova e sem dissimulação; os interesses da causa, que são os da Humanidade, lhes são sagrados, e jamais os sacrificarão por uma questão de amor-próprio ou de interesse pessoal; para eles o lado moral não é uma simples teoria: esforçam-se em pregar pelo exemplo; não têm somente a coragem de sua opinião: disto se fazem glória, e sabem, se necessário, pagar com a sua pessoa.
Vêm em seguida aqueles que aceitam a idéia, como filosofia, porque ela satisfaz sua razão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para compreender as obrigações que a Doutrina impõe àqueles que a assimilam. O homem velho está sempre aí, e a reforma de si mesmo lhe parece uma tarefa muito pesada; mas como eles não estão menos firmemente convencidos, e se encontram entre eles propagadores e defensores zelosos. (comentário meu: boa maioria de nós.)"
(Revista Espírita, Julho de 1866, Ed. FEB, p. 261-276.)
Depois, há pessoas levianas para quem o Espiritismo está inteiramente nas manifestações; para elas é um fato, e nada mais; o lado filosófico passa desapercebido; o atrativo da curiosidade é seu principal motivo, extasiam-se diante de um fenômeno, e permanecem frias diante de uma consequência moral.
(Os levianos fazem do centro o seu clube: fofocam, disputam, falam para quem cruzar a sua frente o que ocorreu na sessão mediúnica, são geralmente problemáticos, com baixa auto-estima e vêem na instituição um local de auto-realização, esquecendo que esta realização deveria vir da sua relação familiar e profissional e não em um local destinado á doação, à renúncia, ao trabalho com Jesus. Perturbam a harmonia, e os dirigentes, identificando-os, devem chamá-los à retidão, sob pena de não poderem exercer certas tarefas)
(Os levianos fazem do centro o seu clube: fofocam, disputam, falam para quem cruzar a sua frente o que ocorreu na sessão mediúnica, são geralmente problemáticos, com baixa auto-estima e vêem na instituição um local de auto-realização, esquecendo que esta realização deveria vir da sua relação familiar e profissional e não em um local destinado á doação, à renúncia, ao trabalho com Jesus. Perturbam a harmonia, e os dirigentes, identificando-os, devem chamá-los à retidão, sob pena de não poderem exercer certas tarefas)
"Outros são mais adocicados e mais insinuantes; sob seu olhar oblíquo e com palavras melosas, sopram a discórdia, pregando a desunião; lançam jeitosamente sobre o tapete questões irritantes ou ferinas, assunto de natureza a provocar dissidências; excitam um ciúme de preponderância entre os diferentes grupos, e ficam encantados em vê-los se lançarem pedra, e, em favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma e de fundo, o mais freqüentemente provocadas, levantar bandeira contra bandeira."
(Esse tipo de psicopatia encontramos em todos os setores da nossa sociedade. Porém, pelo dano que causa, necessita ser afastado das atividades caso não mudem a conduta)
(Esse tipo de psicopatia encontramos em todos os setores da nossa sociedade. Porém, pelo dano que causa, necessita ser afastado das atividades caso não mudem a conduta)
"É preciso não perder de vista que estamos, como dissemos, em momento de transição, e que nenhuma transição se opera sem conflito. Que não se admire, pois, em ver se agitarem as paixões em jogo, as ambições comprometidas, as pretensões frustradas, e cada um tentar recobrar o que vê lhe escapar, aferrando-se ao passado; mas pouco a pouco tudo isso se apaga, a febre se acalma, os homens passam, e as idéias novas ficam. Espíritas, elevai-vos pelo pensamento, levai vosso olhares vinte anos à frente, e o presente não vos inquietará."
"Sem contradita, as intrigas dos falsos irmãos poderão trazer, momentaneamente, algumas perturbações parciais. Por isso, é preciso fazer todos os seus esforços para frustrá-las tanto quanto possível"
"Conhecemos o provérbio: Dize-me com quem andas e te direi quem és. Podemos parodiá-lo em relação aos nossos Espíritos simpáticos, dizendo assim: Dize-me o que pensas e te direi com quem andas.
(...) uma de suas táticas (dos espíritos) é a desunião, porque sabem muito bem que podem facilmente dominar quem se encontra privado de apoio.
Assim, quando querem apoderar-se de alguém, o primeiro cuidado é sempre inspirar-lhe a desconfiança e o isolamento, a fim de que ninguém os possa desmascarar, esclarecendo as pessoas prejudicadas com conselhos salutares. Uma vez senhores do terreno(...), aproveitando o lado fraco que descobrem para, em seguida, melhor fazê-las sentir a amargura das deçpções, feri-las em seus afetos, humilhá-las em seu orgulho e, muitas vezes soerguê-las por um instante tão-só para precipitá-las de mais alto."
(Revista Espírita, Julho de 1859, Ed. FEB, p. 255-274.)
OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO
Tornou-se hábito imputar tudo de ruim que acontece na instituição espírita aos espíritos inimigos do espiritismo. Mas, pense bem, isto é mera transferência de responsabilidade. Porque somos nós, os trabalhadores, que, por nossa sintonia com eles, e pelo nosso orgulho e egoísmo, trazemos a desarmonia para dentro do centro. UM CENTRO ESPÍRITA NÃO PODE SER EXPLODIDO: ELE PRECISA SER IMPLODIDO, ou seja, alguém tem que entrar com a bomba. Num centro harmônico, composto por pessoas comprometidas com o bem, onde há o respeito, a solidariedade, a tolerância, pergunto: que podem fazer os nossos irmão da erraticidade? Nada, além das contínuas tentativas de perturbar os trabalhadores, que com o tempo acabam por desistir, vendo que seu esforço não logra.
O mais recente plano dos inimigos da luz, pelo que se observa, é de centrar seus ataques nos componentes da direção. Porque onde se acaba um grupo de trabalho, surge outro no lugar. Mas se a casa desaba de cima pra baixo, vem rápido. Dividi et impera, dididir para imperar, essa técnica era utilizada pelos romanos para manter seus povos conquistados. Divida uma direção e surgirá facções, que gerarão discórdias, que poderão partir para ofensas e maledicências, e a cizânia está instalada. E cizânia e assistência da espiritualidade elevada não combinam. Depois de esgotados os conselhos para a restauração do amor e da tolerância entre os trabalhadores, se afastam - não ficarão financiando uma situação que raia ao absurdo num centro espírita. Aí vem o aprendizado pela dor, em parte imposta pelas falanges que pouco a pouco se infiltraram. Isto pode inviabilizar os trabalhos espirituais realizados na casa.
Do mesmo modo que Kardec expõe as feridas, oferece o remédio. Pergunto: o que nós, os trabalhadores da última hora, precisamos ler que não esteja contido abaixo?
"Mas, do mesmo modo que há raios
sonoros harmônicos ou discordantes, há também pensamentos harmônicos ou
discordantes. Se o conjunto é harmônico, a impressão é agradável; se é
discordante, a impressão é penosa. Ora, por isto, não há necessidade de que o
pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não existe menos,
quer ela seja expressada ou não; se todos são benevolentes, todos os assistentes
nele experimentam um verdadeiro bem-estar, e se sentem comodamente; mas se é
misturada com alguns pensamentos maus, eles produzem um efeito de uma corrente
de ar gelado no meio tépido.
Tal
é a causa do sentimento de satisfação que se sente numa reunião simpática; ali reina
como uma atmosfera moral saudável, onde se respira comodamente; dali se sai reconfortado,
porque se está impregnado de eflúvios salutares. Assim se explicam também a
ansiedade, o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos
malévolos provocam, por assim dizer, correntes fluídicas doentias.
A
comunhão de pensamentos produz, pois, uma espécie de efeito físico que reage sobre
o moral; é o que só o Espiritismo poderia fazer compreender. O homem o sente instintivamente,
uma vez que procura as reuniões onde ele sabe encontrar essa comunhão; nessas
reuniões homogêneas e simpáticas, ele haure novas forças morais; poder-se-ia
dizer que ali recupera as perdas fluídicas que ele faz cada dia pela irradiação
do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.
A
esses efeitos da comunhão de pensamentos junta-se um outro que lhe é conseqüência
natural, e que importa não perder de vista: é a força que adquire o pensamento
ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidas. Sendo a
vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo número das vontades
idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número dos braços."
"Qual
é, pois, o laço que deve existir entre os Espíritas? Eles não são unidos entre
si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória; qual é o
sentimento no qual devem se confundir todos os pensamentos? É um sentimento
todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para todos, de
outro modo dito: o amor do próximo que compreende os vivos e os mortos, uma vez
que sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.
A
caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo
mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há verdadeiro
Espírita sem caridade.
Mas
a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, da qual é necessário
bem compreender toda a importância; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e
de defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto é ainda necessário.
O
campo da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por falta
de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade beneficente
e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é
naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se dispõe; mas a
segunda está ao alcance de todo o mundo, do mais pobre como do mais rico. Se a
beneficência é forçosamente limitada, nenhuma outra senão a vontade pode pôr
limites à benevolência.
O
que é preciso, pois, para praticar a caridade benevolente? Amar seu próximo como
a si mesmo: ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o amará muito; se
agirá para com outrem como se gosta que os outros ajam para conosco, não se desejará
nem se fará mal a ninguém, porque não gostaríamos que no-lo fizessem.
Amar
seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor,
de inveja, de ciúme, de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento
de prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o mal; é ser
indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha
no olho de seu vizinho, então que não se vê a trave que está no seu; é ocultar
ou desculpar as faltas de outrem, em lugar de se comprazer em pô-las em relevo
pelo espírito de denegrir; é ainda não se fazer valer às custas dos outros; de
não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; de não desprezar
ninguém por orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática,
sem a qual a caridade é uma palavra vã; é caridade do verdadeiro Espírita como
do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade
não há salvação, pronuncia a sua própria condenação, neste mundo tão bem
quanto no outro.
Quantas coisas haveria a se dizer
sobre este assunto! Quantas belas instruções nos dão, sem cessar, os Espíritos!
Sem o medo de ser muito longo e de abusar de vossa paciência, senhores, seria
fácil demonstrar que, em se colocando do ponto de vista do interesse pessoal,
egoísta, querendo-se, porque todos os homens não estão ainda maduros para uma
abnegação completa, para fazer o bem unicamente pelo amor ao bem, seria, digo
eu, fácil de demonstrar que têm tudo a ganhar agindo da maneira e tudo a perder
agindo de outro modo, mesmo em suas relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o
mal atrai o mal e abre a porta à maldade dos maus. Cedo ou tarde o orgulhoso é
castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de
suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que
abandona os bons Espíritos por eles é abandonado, e, de queda em queda, se vê,
enfim, no fundo do abismo, ao passo que os bons Espíritos levantam e sustentam
aquele que, em suas maiores provas, não deixa de confiar na Providência e não
desvia jamais do caminho reto; aquele, enfim, cujo secretos sentimentos não
escondem nenhum pensamento dissimulado de vaidade ou de interesse pessoal.
Portanto, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude
de seu livre arbítrio, pode escolher a chance que quer correr, mas não poderá tomar
senão de si mesmo as conseqüências de sua escolha.
Crerem
um Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade;
na preexistência da alma como única justificativa do presente; na pluralidade das
existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e
moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente
na perfeição; na eqüitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio: a
cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem
exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação
limitada à da imperfeição; no livre arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a
escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo
visível e o mundo invisível, na solidariedade que religa todos os seres passados,
presentes e futuros, encarnados e desencarnados, considerar a vida terrestre
como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar
corajosamente as provações, tendo em vista o futuro mais invejável do que o
presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e em ações na mais
ampla acepção da palavra; se esforçar cada dia para ser melhor do que na
véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as suas
crenças ao controle do livre exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega;
respeitar todas as crenças sinceras, por irracionais que nos pareçam, e não
violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas diferentes descobertas da
ciência a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo,
a religião do Espiritismo, religião que pode se conciliar com todos os cultos,
quer dizer, com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os Espíritas em uma santa comunhão de
pensamentos, à espera que una todos os homens sob a bandeira da fraternidade
universal.
Com a fraternidade, filha da caridade,
os homens viverão em paz, se poupando os males inumeráveis que nascem da
discórdia, filha, a seu turno, do orgulho, do egoísmo, da ambição, do ciúme e
de todas as imperfeições da Humanidade.
O Espiritismo dá aos homens tudo o que
é preciso para sua felicidade neste mundo, porque lhes ensina a se contentarem
com aquilo que têm; que os Espíritas sejam, pois, os primeiros a aproveitarem
os benefícios que ele traz, e que inaugura entre eles o reino da harmonia, que
resplandecerá nas gerações futuras."
(Revista
Espírita, Dezembro de 1868, Ed. FEB, p. 487-495)
(Revista Espírita, Abril de 1866, Ed. FEB, p. 157-163.)
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